"Não tenho ambições nem desejos, ser poeta não é uma ambição minha. É minha maneira de estar sozinho". Fernando Pessoa

sábado, 25 de abril de 2009

E de repente, a manhã (A Thiago de Melo)


E de repente se fez manhã,
O sol caindo sobre todos,
Homens, crianças, mulheres.
E foi só um grito de paz,
De liberdade.
Um grito do fundo d'alma
Anunciando a manhã.
O ontem ficou morto
Enterrado sob o asco dos homens,
Apagado das memórias.
Hoje o sol brilha mais forte
E todos de mãos dadas
Cantam uma canção de amor.

Visões paranormais


Nas visões múltiplas
De um anacronismo crônico
Sinto uma indisposição
Alérgica.

E nas variações transcendentais
Da mente,
Apego-me a uma disposição
Nostálgica.

Aí, tomo um sonrisal
E arroto batida de limão.

Para uma menina, com um sorriso


Eu queria dizer tanta coisa,
Mas uma simples inspiração
Não é o suficiente.
Eu queria lhe dizer
Que o céu está mais azul,
A vida mais clara
(Apesar de estar cara),
Que o sol brilha mais forte,
Que tanto faz no sul, como no norte.
Que o tempo é bom,
A temperatura estável.
Que o barco navega
Em águas claras.
Eu queria lhe dizer
Que tudo é sorriso,
Que é primavera,
Mesmo sendo inverno.
Eu queria lhe dizer
(Mesmo que você não acredite)
Que lhe amo!

Noite


A noite
Já não é a mesma.
Faltam teu cabelos castanhos
Teus olhos,
Teus lábios.
A noite é triste,
Melancolicamente triste.

A noite
Já não me acolhe
Em tua sombra,
Nem a lua me acena
Com o sorriso da paz.

A noite é triste
A noite é dor.
Falta tua presença
Dentro da noite.

Canção do derrotado


Eu, misto de poeta e vagabundo
Operário do lápis,
reflexo de mim mesmo.
Eu perdi.

Humildemente,
Por entre a fumaça
De um cigarro
Reconheço a derrota.

Não temo a morte
Que não morri,
Nem a vida
Que deixei de viver.

Temo sim
Teus olhos verdes
Que me impuseram a mais
Cruel derrota.

E por entre os escombros
De minha alma derrotada
Me entrego
Ao teu corpo,
Aos teus seios,
Aos teus olhos.

Cuidado!


A poesia "tá" aí
Mordendo,
Gritando,
Sarrando,
Jorrando,
Berrando,
Matando e
Morrendo.

Cuidado!

A poesia "tá" solta!!!!!

O tempo


Aquele sorriso sincero,
Onde está?
Aquele aperto de mão,
Onde ficou?
Hoje o sorriso morreu.
O braço ficou estendido,
Esquecido o abraço,
Entre as cinzas do passado.

A pressa não deixa lugar
Para os sentimentos.
E apressado aperto meu passo
Sem olhar para trás.

Um tempo, um dia,
O ontem jaz esquecido
Entre as muralhas do amanhã.
O hoje é passageiro,
Rápido.
O ontem se fez prisioneiro
De um tempo morto.

Para que?
Por que?
O tempo não pode esperar.
E o amanhã,
Quem sabe?

Casa de paredes brancas (jogral)


Eram brancas as paredes
As paredes da casa
Da casa de pedra
De pedra amarela
amarela era a casa
A casa assombrada
Assombrada sem sombras
As sombras da noite
Na noite de Natal
Natal acabado
Acabou em paredes
Paredes brancas da casa
Da casa de paredes brancas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Morte de um poeta


O poeta que havia em mim,
Morreu.
Morreu de tédio,
De ódio.

Hoje o que resta do poeta
É uma matéria esquelética
Sem forma,
Sem poesia.

O poeta que havia em mim,
Hoje jaz em qualquer lugar
Da América Latina.

Ficou somente o homem.
Dois braços em busca
De um motivo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Leyenda por un guerrero


Octubre,
Ocho
Un hombre morió en la sierra
De bala, de cutillo.
Un hombre morió.
Un hombre de fibra
De fe.

Octubre,
Ocho
Un hombre morió
En las montañas de America
Foe lo precio pago
Por la bravura
Por la voluntad de lucha
Por la libertad.

Morió el hombre
Mas aún existe
El fuego de la esperanza
En los pueblos
De mi America.

(Texto escrito em 10 de outubro de 1967)


Um pouco de minhas telas.

Verdes olhos


Verde que te quero
Olhos,
Verde que te quero
Puro,
Ver-te, quero
Agora,
Sempre.
Verdes olhos
De meu perder.

Amor


Amor.
Verbo intransitivo
Que me faz
Sensitivo
De nada.

Amor
Substantivo masculino
Que pelo feminino
Me faz
Em nada.

E do nada que sou
Ao nada que me resta
Me faço amor!

Poesonho


Um dia sonhei ser poeta,
Cantei em versos
Todo o universo,
Fiz da morte, vida,
Fiz do pranto, festa,
Da menina feia,
A musa mais bela.

Um dia sonhei ser poeta,
Transformei o mundo
Em versos e rimas.
Transformei o homem
Em um ser mais dócil.
Fiz do ódio,
Um amor profundo.

Um dia sonhei ser poeta
E acordei no espanto
Escrevendo um verso.
Vi o mundo mas claro,
Não um mero objeto.

Senti o azul do céu
Mais perto.
Um dia, quem me dera
Se eu fosse um poeta:
Faria da tristeza, alegria,
Do desânimo, coragem.

E para não perder a viagem
Faria de mim, um verso qualquer.